No fundo, sinto-me apodrecer. Agora sei onde e de quê irei morrer: À beira do Tejo, de suas margens macilentas e inclinadas. Nada é mais belo e triste E a existência sublime e lenta.
De tarde vagueio pelos prados E à noite ouço o queixume dos fados Até romper a madrugada. - “A vida é imensa tristura” - E logo sinto as amarras desse mal Que no tempo aguarda fatal.
São as varinas quem canta o fado E os entes que já nada esperam. -“Mais um copo pra esquecer”- Deixam-no desamparado, Ecoando por becos e vielas, Num silêncio que consente.
Um deles ouvi cantar E minha frieza tornou-se em pesar: “Nada me consola além da dor. A vida não conhece o perdão, Mais não tenho que este meu fado P’ra me encher a noite, sem amor.”
No fundo, sinto-me apodrecer; Aqui, de nada serve morrer, Onde tudo se perde na volúpia da dor: Lisboa, outrora cidade das cidades, Arrasta o passado no presente, E vê nas ruínas uma glória que mente.
Por essa miragem me encantei; Também eu descobri e conquistei, Para afinal, de tudo ser perdedor Morrendo na lentidão da corrente, Junto à campa do mais nobre Dos sonhos: “tudo é dor”.
Compositores: Custódio Azevedo Fidalgo Castelo (Custódio Castelo), Jan SlauerhoffPublicado em 2002ECAD verificado obra #3895360 e fonograma #12924135 em 23/Mai/2024